Membro honorário da AIA-SEAS: António Pinto Barbedo de Magalhães

António Pinto Barbedo de Magalhães nasceu em 1943 nos Açores, filho do oficial de engenharia Manuel Barbedo de Magalhães, que aí estava destacado desde 1941.

Formou-se em Engenharia Mecânica na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) em 1968, sendo de imediato convidado a lecionar naquela instituição, onde se manteve como docente até 2013. Doutorou-se em Metalúrgica na Universidade de Gand (Bélgica) em 1973, sendo da sua autoria cinco patentes de invenção de tecnologias na área da fundição.

Em 2004, propôs uma metodologia pedagógica inovadora, baseada no trabalho multidisciplinar em equipa com vista a promover as capacidades de liderança e empreendedorismo dos alunos, que esteve na génese dos Projetos Lidera, posteriormente implementados em toda a Universidade do Porto (UP). Pela sua relevância como docente, recebeu o título de Professor Emérito da Universidade do Porto a 22 de janeiro de 2014.

A ligação a Timor começou com a sua mobilização para o território em outubro de 1974, no cumprimento do serviço militar. Foi nesse contexto que coordenou os trabalhos para a Reestruturação do Ensino em Timor, que acabaram por ser interrompidos devido à instabilidade gerada pelo golpe da UDT contra a administração portuguesa em agosto de 1975.

Durante a ocupação indonésia, foi uma importante voz da luta de Timor pela independência. Fundou a Associação Paz e Justiça para Timor-Leste (APJTL) em 1983 e integrou a Comissão para os Direitos do Povo Maubere (CDPM). Fez parte da Comissão Organizadora das Jornadas de Timor da Universidade do Porto (1989-1998), sendo o principal organizador de iniciativas para mobilizar meios académicos e políticos, nacionais e internacionais, para a solidariedade com o Povo de Timor. Estas jornadas decorreram em Portugal e noutros países, entre os quais Alemanha, Austrália, Estados Unidos, Canadá e Brasil, e surtiram consequências políticas de relevo.

Desempenhou um papel fundamental quando, em 1981-1982, numa altura em que a Resistência à ocupação indonésia no território se encontrava quase inativa, mobilizou esforços para não deixar cair da agenda da ONU as questões do genocídio timorense e da anexação pela Indonésia. Com esse propósito, conseguiu envolver várias frentes, começando por obter algumas cedências da parte do representante da FRETILIN em Portugal, e estabelecer contactos com o Parlamento Europeu. Graças às conversações que iniciou com diferentes grupos parlamentares com representação na Assembleia da República, foi criada a primeira Comissão Eventual da Assembleia da República para Acompanhamento da Situação de Timor, o que resultou na apresentação da Resolução 37/30 na Assembleia-Geral da ONU e na sua aprovação a 3 de novembro de 1982. Foi na sequência desta aprovação que Portugal e Indonésia assinaram, em Nova Iorque, o acordo que abriu espaço ao Referendo realizado a 30 de agosto de 1999.

Entre 1998 e 2000, com a cooperação do Instituto de Estudos Estratégicos e Internacionais (IEEI) de Lisboa, apoiou e foi coorganizador informal de importantes reuniões que puseram em contacto líderes da Resistência Timorense com generais e outras personalidades indonésias altamente influentes.

Além da sua relevância académica na área da engenharia, o Professor Barbedo de Magalhães lecionou em cursos de licenciatura, mestrado e pós-graduações em diferentes universidades portuguesas (Coimbra, Porto, Lisboa) na área das Relações Internacionais, e realizou vários cursos livres sobre Timor-Leste e a Indonésia.

Pelo seu trabalho em prol da causa de Timor-Leste, foi agraciado com a Ordem do Infante D. Henrique (10 de junho de 2000) e com a Ordem de Timor (20 de maio de 2012).

Desde 2017 que estão depositados na UP o acervo documental (Arquivo da Faculdade de Engenharia) e bibliográfico (Biblioteca da FEUP) relacionados com a história de Timor-Leste e com a política internacional, reunidos pelo Professor Barbedo entre 1974 e 2007 (https://www.up.pt/arquivo/details?id=242600)

Sem António Pinto Barbedo de Magalhães, a história de Timor-Leste seria, certamente, muito diferente.

 

Alguma bibliografia sobre Timor-Leste

Magalhães, A. B. de. (1983). Mensagem aos vivos. Limiar.

Magalhães, A. B. de. (1992). Timor-Leste. Ocupação indonésia e genocídio. Universidade do Porto.

Magalhães, A. B. de (Ed.). (1992). Timor-Leste: Terra de Esperança: II Jornadas de Timor da Universidade do Porto, de 28 de abril a 1 de maio de 1990. Reitoria da Universidade do Porto e Fundação Eng. António de Almeida.

Magalhães, A. B. de. (1997). Timor-Leste e as jornadas da Universidade do Porto. Universidade do Porto.

Magalhães, A. B. de. (1999). Timor-Leste na encruzilhada da transição indonésia. Gradiva.

Magalhães, A. B. de. (2007). Timor-Leste: Interesses internacionais e actores locais (1–3). Edições Afrontamento.